Quando a Disney anunciou seus planos para estender a franquia, Star Wars: o Despertar da Força veio com o potencial de ser um baita arrasa-quarteirão como nenhuma outra de suas sequências. Tinha o papel fácil de redimir a segunda trilogia que tratava dos “prequels” da saga e junto carregava um apelo gigante por trazer boa parte do elenco original de volta, contagiando assim fãs que vinham acompanhando essa saga cósmica desde seus originais.
Muita gente esperava apenas ser envolvida por pura nostalgia ao ver velhos rostos conhecidos em ação. Outros viam apenas a chance de encontrar um novo capítulo para os novos fãs que estão por vir e assim revitalizar a franquia. Mas ninguém esperava encontrar o fenômeno chamado Rey, que em pouco tempo de tela fez qualquer um das três gerações que são alvo do filme se apaixonar e se ver como Rey.
As intenções do novo comando de Star Wars, encabeçada nesse sétimo filme pelo diretor J. J. Abrams, eram claras para a personagem. Mais do que ocupar um protagonismo feminino que notoriamente era deixado bem de lado nas duas trilogias passadas, a jovem Rey surge como uma personagem que atende aos olhos do fã dentro da tela, seja aquele que está depois de um bom tempo esquecido num planeta ou no vácuo dos antigos filmes; seja aquele que é novo demais nisso tudo e só pegou o hype pela energia vibrante de terceiros que tratam essas antigas histórias como se fossem lendas. Em resumo, Rey é o velho e o novo, não misturados, mas juntos.
Tudo em Rey remete a ter um toque misterioso que a vincula ao passado. Ao colocar a personagem como uma sucateira de Jakku, um planeta que viveu uma intensa guerra entre os resquícios do Império e os rebeldes cada vez mais triunfantes após a queda do Imperador, ela se torna um verdadeiro easter egg ambulante. Vive da sucata de um antigo cruzador imperial caído, mora nas ruínas de um AT-AT Walker em ruínas, e ostenta com orgulho um capacete de um piloto rebelde que guarda em meio as tralhas que decide não vender e guardar como verdadeiro memento das ‘lendas’ antigas.
Mais tarde, quando sua vida dá uma guinada e ela alça passos mais largos para bem longe de Jakku, Rey está mais distante das lembranças físicas, mas muito mais perto daquelas histórias que só ouviu falar. É curioso ver aqui quando ela cita com um pouco de imprecisão em quanto tempo a Millenium Falcon fez o circuito da corrida de Kessel ou como seus olhos brilham de felicidade quando o nome de Luke Skywalker é citado. Ela ali deixa de ser apenas Rey, mas é também o fã ávido como muitos de nós que chegam até mesmo a decorar as falas dos filmes originais e as repetem sem pensar quando instigados.
O vínculo de Rey ao passado é nitidamente algo mais forte do que meramente parece. Apesar de só colocado isso subliminarmente no filme, Rey não só é uma fã deste passado, como dá sinais claros que faz parte dele. Ao pisar pela primeira vez na ‘sucata’ estacionada num canto da pista de pouso de Jakku, Rey rapidamente parece conhecer certas coisas muito particulares daquela nave. Ela sabe apontar exatamente para Finn onde ficam as canhoneiras (logo depois ressaltando que não sabe como tem conhecimento disso). Ela intuitivamente põe as mãos no controle e identifica quais os problemas e como dar um jeito neles. Ou seja, com um pouco de atenção, dá pra perceber que Rey não é nenhuma estranha na Millenium Falcon.
Mas o sinal mais forte entre Rey e o passado está claramente evidenciado quando ela toca no sabre de luz perdido de Anakin, herdado posteriormente por Luke Skywalker. Num emaranhado de cenas que se misturam e confundem, três momentos são claramente evidentes ao espectador. O primeiro deles é focado num misterioso e encapuzado jedi com a mão direita biônica ao lado de uma unidade R2. O segundo traz um dia tempestuoso e negro, com cadáveres para todos os lados e executores em uniforme negro. Por fim, uma pobre garotinha chorando e sendo deixada para trás num planeta desértico. Em meio a essas imagens, temos as vozes de Frank Oz, Alec Guinness e Ewan McGregor nesse emaranhado.
Aquelas visões denotam ao passado e a aposta mais fácil é que sejam lembranças enterradas de uma Rey muito pequena. A primeira cena sugere um vinculo forte com Luke Skywalker, que misteriosamente deve ter deixado mais uma vez um importante segredo na sua fiel unidade R2. O terror da outra cena nos leva a pensar que todos aqueles caídos eram os adeptos da força que fariam parte da nova Ordem Jedi que Luke estava juntando (como citado no filme), e acabou tendo um destino cruel nas mãos de Kylo Ren e seus cavaleiros. Por fim, a última cena é a de uma jovem Rey sendo deixada em Jakku contra sua vontade e aos cuidados de Unkar Plutt, o comprador de sucatas vivido por Simon Pegg. Uma vez posto isso e todas essas visões confirmadas como lembranças de Rey, o que podemos extrapolar daí é que no mínimo Rey já conheceu ou mesmo foi treinada nos primórdios por Luke, sobreviveu ao massacre dos Cavaleiros de Ren e foi deixada no meio deste conflito em segredo no planeta Jakku para sobreviver.
Levando em consideração esse olhar sobre essas visões de Rey, podemos inclusive responder facilmente um dos maiores questionamentos que alguns tem sobre a personagem e que outros até acusam como solução fácil de roteiro – Como Rey aprendeu truques Jedi do nada e pode inclusive sobrepujar um mais experiente Kylo Ren? A resposta mais simples e direta para isso é – Ela já sabia fazer tudo aquilo, só não lembrava. E isso tudo remete ao que é todo esse filme – O Despertar.
O Despertar da Força é o Despertar de Rey. E quando eu falo em despertar, não se trata da garota se descobrir como uma “adepta da força” poderosa como era Anakin antes de ser encontrado por Qui-Gon Jinn. Eu falo dela como uma Jedi treinada que permaneceu como uma agente dormente por todo esse tempo até que uma explosão de memórias veio a ela ao tocar mais uma vez em um sabre de luz. Em meio as vozes de sua visão, um combinado de vozes de McGuiness e McGregor emulam Obi-Wan Kenobi num tom profético falando – “Rey... Esses são seus primeiros passos”. Mais tarde, o lado negro da história também viria a sentir essa reviravolta na vida de Rey. Snoke alertaria seu discípulo de que “Houve um Despertar... Você sentiu?”.
Isso até colocaria Rey como a protagonista mais nova a estudar as artes jedi , já que Luke só foi iniciado aos 19 anos e Anakin aos 9 anos. Todavia, todos os dois casos citados eram muito “velhos” para serem padawans segundo Mestre Yoda em filmes anteriores. Para ser treinado nas artes Jedis, tudo começa muito cedo, tão cedo quanto era pra Rey na época que foi deixada para trás. Então, deste modo, apesar de há muito tempo não exercitar-se nas artes, Rey saberia exatamente o básico para realizar seus grandes feitos ao longo do filme – Resistir a ataques mentais de Kylo Ren, atrair telecineticamente sabre ou mesmo Induzir mentalmente stormtroopers. E mesmo se não, em vários momentos Luke e Anakin realizaram feitos similares apenas intuitivamente em algum momento dos filmes anteriores.
Ao mesmo tempo que me parece certo essa ideia de um treinamento da Rey anterior ao que o filme nos mostra, é claro que há ainda muitas lacunas a serem preenchidas para além do filme. Han Solo e Kylo Ren conheciam a personagem como muitas vezes a narrativa pareciam sugerir em cenas sutis dos dois personagens? Rey teria uma ligação forte com a família Skywalker como sugere a única fala do personagem de Mark Hammill no primeiro trailer? A capacidade de Rey superar Kylo Ren faz parte da teoria do balanço da força cultivada nos outros filmes ou mesmo outras mídias? São questões que o filme não só deixou mas quis colocar em aberto para os fãs até 2017.
O futuro de Rey aqui talvez seja mais certo para nós do que está seu passado. Em sua última cena, quase que simbólica, vemos seus novos passos para o destino que lhe foi reservado. Ela encontra o grande objetivo de sua missão num planeta considerado o repositório do mais antigo templo dos Jedis – Um velho e surpreso Luke Skywalker. Com o braço estendido, ela lhe entrega o antigo sabre de luz, ao mesmo tempo que o encara trêmula por ver uma lenda viva que pode ensinar-lhe tudo. Com isso, temos a ligação final que o filme promete – O velho e o novo. Juntos.
Coveiro
Coveiro
E eu volto de novo pra mais. Tem muita coisa ainda para explorar nesse filme como um pouco mais do que aparentemente mostra o Kylo Ren neste filme assim como esmiuçar mais a teoria do balanço da Força na família Skywalker.












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